quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Aquela doença...

Lembro-me de um dia, quando iniciava a minha etapa escolar, a minha avó ter sido operada e não ter resistido…a minha disse-me: “a avó morreu com aquela doença…não havia nada a fazer.” O cancro começava rapidamente a fazer vítimas, atacando impunemente, sem se compadecer com estratos sociais ou faixas etárias. Quem de nós teve a sorte de não ter perdido um familiar ou amigo?

O cancro é a doença com mais custos económicos, segundo um estudo da um estudo da Sociedade Norte-Americana do Cancro. Esta enfermidade custa mais em produtividade e em perdas de vidas humanas do que a sida, o paludismo, a gripe ou outras doenças contagiosas. A OMS estima que o cancro possa derrubar, este ano, os ataques cardíacos da liderança das causas de morte. O estudo é patrocinado pela Livestrong, a fundação do ciclista Lance Armstrong, que superou um cancro.

Mas eis que surge uma luz ao fundo do túnel, apesar de já vir tarde para alguns. Uma radioterapia que pode eliminar o cancro numa única sessão, mesmo com o tumor já espalhado, estará em breve disponível em Portugal, através de uma máquina quase única no mundo que ficará instalada na Fundação Champalimaud. O equipamento permitirá fazer radioterapia de dose única, tratamento que requer um elevado nível de precisão e que poderá ser feito em poucos minutos e sem qualquer toxicidade para o doente.

Esta técnica de radioterapia de dose única, disponível para tratamento no final do primeiro trimestre de 2012, vem permitir tratar muitos dos casos de cancro com metástases, sobretudo os menos disseminados. Trata-se de uma radioterapia por imagem guiada, em que se faz uma TAC e o tratamento em simultâneo, que exige um elevado nível de precisão para que a dose única seja aplicada no local adequado e se torne suficiente. As metástases significam 90% das causas de morte por cancro e infelizmente a resposta da comunidade médica nestes casos passa apenas pelos cuidados paliativos. Carlos Greco, responsável pela Fundação afirma: "Já testámos este equipamento e esta técnica na Universidade de Pisa, em Itália, e os resultados foram surpreendentes. Tem é de ser administrada uma dose suficientemente forte para erradicar o tumor. E já provámos que funciona em qualquer tipo de cancro, mesmo num dos mais resistentes à quimio ou radioterapia."É uma revolução", resume, assegurando que é indolor, se elimina a toxicidade e se consegue fazer o tratamento "de olhos fechados" demorando menos de um quarto do tempo do que as sessões convencionais de radioterapia. Ou seja, em 10 minutos consegue-se o mesmo do que com a cirurgia, mas permitindo ao doente ir para casa de seguida e sem risco de morte.
A vantagem, segundo o especialista, é que este método permite tratar várias lesões numa mesma e única sessão: "Podemos finalmente oferecer aos doentes metastáticos, mais do que uma esperança, uma realidade - sem dor e sem invasão".

Contudo, a radioterapia de dose simples requer uma equipa estruturada e investigação em patologia molecular, para que se estude cada caso e a dose certa a dar em cada tipo de cancro."Isto significa uma medicina personalizada. Selecionamos a dose conforme a histologia e a genética de cada pessoa. Só pode ser executado por uma equipa multidisciplinar", comenta.
O diretor da Fundação lembra que a administração tem estado a trabalhar com o Governo português e que as negociações futuras serão feitas com cada um dos hospitais que manifestem interesse. Por agora, a Fundação só recebe doentes particulares, tendo já acordos com oito instituições com seguros de saúde. Apesar de nunca revelar o custo do equipamento para a radioterapia de dose única, Greco garante que o tratamento sai menos caro do que a radioterapia convencional. O custo para o sistema de saúde é muito mais baixo. A máquina vive por 10 anos e trata quatro vezes mais doentes", sublinha.

A ciência, mais uma vez, ao serviço da Humanidade.


Margarida Borralho, formadora de Sociedade, Tecnologia e Ciência



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