quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Da (não) aquisição da Coleção Berardo

Conheço o estado da economia portuguesa, conheço o número de desempregados (e conheço pessoalmente vários...). Todavia, também conheço o passado e gostaria que tivéssemos um futuro. Não aprecio particularmente arte moderna mas conheço a importância que a Arte tem no desenvolvimento integral do Ser Humano.
Esta coleção de arte é considerada das melhores a nível europeu e mundial. Faz, conjuntamente com o Museu dos Coches e o Museu Nacional de Arte Antiga, a troika de museus mais visitados por nacionais e por estrangeiros. Sei que é gratuita mas depois de a comprarem podem colocar o mesmo sistema dos outros museus.
O Estado não a adquirir é uma péssima ideia, da qual será óbvio que nos iremos arrepender, por já termos passado por isso: Coleção Champalimaud, Coleção Jorge de Brito, .... Obras de arte que saíram do país por os sucessivos governos terem vistas curtas, economicistas e cobardes quanto à opinião publicada (já estou a ver as manchetes do "Correio da Manhã").
A própria lei que deveria proteger a saída de obras de arte do país, através do direito de preferência do Estado sobre obras adquiridas em leilões, foi há algum tempo declarada errónea pelo Supremo Tribunal Administrativo e, que eu saiba, não foi ainda corrigida (talvez porque o Parlamento esteja mais ocupado com o custo da água da torneira vs água engarrafada). na prática, isto significa que o Estado já não pode cobrir a última licitação feita por um particular num leilão, tendo esta caráter de primazia.
Um SEC dizer isto, alguém tão culto e inteligente como Francisco José Viegas, é (mais) uma profunda desilusão sobre um governo obcecado com o curto prazo e sem uma visão estratégica de longo prazo para o país.
A espuma dos dias e a velocidade da informação leva a que amanhã já pouca gente dê pouca importância a isto, o que nos caracteriza também como um povo sem memória, concentrado no seu triste fado.
Quanto à questão do como pagar, parece-me que entre a inscrição dessa verba no Orçamento de Estado e a colaboração de Mecenas se deveria encontrar uma solução. Nem que fosse a CGD (100% pública) converter os créditos que tem sobre Joe Berardo (os empréstimos que lhe fez para comprar ações do BCP) em posse da coleção, mantendo-a no CCB.

http://rr.sapo.pt/informacao_detalhe.aspx?fid=30&did=52538