No dia 19 de outubro, o Centro Novas Oportunidades, promove a tertúlia “Portugal – Um retrato social", que terá início às 20:00, com a exibição do episódio “Mudar de Vida: O fim da sociedade rural", que retrata a sociedade contemporânea, urbana, que era ainda há pouco tempo rural, explicando como se evidenciou o êxodo rural. Este episódio faz parte de uma serie documental, Portugal – Um retrato social, de António Barreto.
No
final do documentário, irá haver espaço para um debate e uma reflexão sobre o
tema, com a participação do Dr. Acácio Sousa, licenciado em história, mestre em
estudos luso-asiáticos e doutorando em ciência política.
Esta
tertúlia é destinada aos adultos que frequentam o processo RVCC de nível básico
e secundário.
Reflexão de um adulto do grupo nº 8/2012 de Fátima de nível secundário
O
sociólogo António Barreto, neste documentário, retrata a nossa sociedade nos
anos em que se dá uma mudança, diz-nos que esta mudança drástica é uma perda
imensa para a nação; é óbvia esta realidade, mas faz parte de uma herança do
nosso passado, da nossa paragem no tempo durante 48 anos de regime fechado, de
medo. Se pensarmos que em 1910 cerca de 90 % do povo português era analfabeto,
isto mostra o atraso a que o povo estava submetido em prol de uma minoria que
tirava proveito disso, obviamente aqueles que detinham o poder. Após o 25 de abril
há uma viragem enorme para a qual o povo não estava preparado, porém sabia que
este era o momento, o vento da mudança.
Pessoas
que veem uma abertura no tempo para poderem ter uma vida melhor, que era vista como
se tratando de um último comboio ou a oportunidade nunca tida até ao momento e
de repente ela está aí mesmo, à mão. Durante este documentário é este o sentimento
que fica, o respirar livremente, o dissipar do medo, de falar, os tão falados
“ventos de mudança”.
Porém,
os portugueses e o país não estavam preparados para as duas realidades, pois,
até há pouco, as suas vidas nas aldeias eram bem diferentes e a mudança para as
cidades tem também as suas consequências, os que vêm do meio rural vão
confrontar-se com novos desafios dos quais nunca tinham ouvido falar. Com esta
brusca mudança até mesmo as pequenas cidades não estavam preparadas para os
acolher, havendo falta de estruturas para tanta gente, faltando saneamento, serviços
de saúde, escolas, correios, eletricidade em todas as casas, telefones e muitos
outros meios necessários, passando estes a viver de forma precária. Com o tempo
as cidades ficaram saturadas tornando a vida das pessoas bem difícil, as
eternas horas nos transportes, nas filas de trânsito, o levantar muito cedo e o
regresso a casa já de noite, o cansaço, vão desgastando este povo que tenta por
todas as formas a tão desejada “boa vida” da cidade que o tempo vai negando,
mas sem perder a esperança, que se não for no tempo deles será para os seus
filhos. Mas não são só as pessoas, as cidades também sofrem com esta mudança, o
crescer sem planeamento e sem regras, vão fazendo delas um lugar triste, feio e
frio, tornando-se numa doença que não terá cura nos próximos tempos.
Os
portugueses mudam de vida, dá-se o nascimento dos chamados subúrbios e com eles
os bairros de barracas, este crescimento de aglomerados de habitações, muitos
deles precários e clandestinos, sem as condições necessárias para habitar,
nomeadamente: casa de banho, água e luz.
É
quase impossível imaginar viver nestas condições hoje em dia, quando temos
eletricidade, água canalizada, gás, aquecimento e muitos outros objetos que
fazem a nossa vida, de certa forma, mais cómoda e confortável, coisa que os
nossos avós nem sonhavam que poderia ser possível.
Nos
anos 90, toda esta situação se agrava, não havendo o cuidado de fazer uma planificação
no território nacional para um crescimento sustentável das cidades, este plano,
apesar de ser delineado, leva mais de uma década a ser posto em prática, não
acompanhando o crescimento, mantendo-se os mesmos problemas, temos dificuldade
em resolver certas questões, tão óbvias e primárias, porém havendo já um poder
económico de uma sociedade que tinha deixado o campo. Alguns deles, poderemos dizer,
que tiveram sucesso a nível monetário, mas não investiram na sua formação,
muitos acharam que não tinham necessidade, pois a sua posição monetária era
suficiente para resolver os seus problemas, os seus objetivos não estavam
virados para o bem comum de uma sociedade.
Esta
nova sociedade tem uma maneira muito peculiar de ver este tipo de assuntos
políticos e sociais: são decisões para serem tomadas pela classe política,
achando que o voto será o suficiente ou a única opção que lhes cabe, esquecendo-se
que este ato é apenas uma pequena parte das suas obrigações como cidadãos,
achando que os políticos, eles sim, devem resolver os problemas da sociedade,
pelo menos assim tentam fazer crer ao povo. Mas com o decorrer dos anos
acabamos por ver que nada fizeram, ou melhor, têm aumentado os problemas com políticas
erradas, desonestas e agressivas para com o povo, levando este, ao fim de
tantas décadas de trabalho árduo, a ter perdido o sonho de uma vida melhor.
Visto
que muitos já não têm emprego na cidade, voltam aos meios rurais, de onde os
seus avós tinham saído, este paradoxo é hoje uma realidade lamentável que
mostra que o esforço feito por eles foi em vão.
O
facto é que o povo deveria ter uma voz mais ativa, ser mais participativo nos
problemas da sociedade, o povo é a chave para a mudança, a sua inércia levou a
que os políticos tenham tomado decisões erradas, com as quais de uma forma ou
de outra concordámos, levando a um retrocesso, provavelmente irremediável nas
próximas décadas.
Este
é o retrato de um crescimento não sustentável e de políticas desastrosas que
vão ser para as novas gerações uma herança pesada.
Será
que vamos ver um novo ciclo? Decerto é que vamos ter que mudar de rumo!
Será
que passa por este começo?
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Mudar de vida: o começo da sociedade rural?
(autor:
Jovino Gaspar Brites)
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