quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Aqui o Turismo conta


Ao longo dos anos que levo de intervenção nesta causa maior que é o Turismo, feita das formas e tantas vezes dos acasos que a vida me foi proporcionando, não me consigo recordar de momento tão sombrio como aquele que agora se vive. Abordei este fundamental setor de atividade económica regional e nacional do prisma do associativismo empresarial, do ensino privado, de uma estrutura pública intermunicipal e do lado do Governo, na administração das escolas de hotelaria e turismo. Esta diversidade de pontos de observação, mas sobretudo o empenho que sempre coloquei nos locais onde tive a oportunidade de trabalhar e de onde decorreram importantes aprendizagens, permite-me hoje olhar o setor e os seus atores, com um sentido crítico consolidado.

Mas porque uma análise ao contexto nacional extravasaria largamente o espaço que me é concedido para este humilde texto, foco a minha análise na nossa realidade regional. São públicas e parece que crescentes, as dificuldades com que se debate agora a designada Entidade Regional de Turismo de Leiria - Fátima. Considero uma grave injustiça e um tremendo erro de análise, colocarem como responsável da situação o atual presidente desta entidade. Admito que seja o caminho mais fácil, mas em boa verdade as causas têm outras proveniências e outros responsáveis. A reorganização administrativa e territorial do Turismo Português, decorrente de um apressado e pouco refletido Plano Estratégico Nacional para o Turismo, o famoso PENT, tinha como um dos seus mais importantes objetivos a redução do número excessivo de entidades gestoras do território turístico, concentrando a atividade em 5 áreas promocionais, Porto, Centro, Lisboa, Alentejo e Algarve às quais acresciam a Madeira e os Açores. Penso que nunca se terá gerado um tão alargado consenso. Mas não. Como uma boa decisão dificilmente se consegue tomar quando se tem medo, dada a colisão com interesses instalados que provoca, não se resistiu e acrescentaram-lhe as áreas a que reconheceram potencial desenvolvimento. Propunha o malfadado Plano Estratégico o liminar desaparecimento de Leiria - Fátima, rasgada entre o Oeste, o Centro e o Vale do Tejo. Manifestações diversas impediram que tal erro fosse cometido e em cima da hora lá se salvou aquilo que é hoje a Entidade Regional de Turismo. Salvou-se a Entidade e parece que se vai salvar o Turismo Religioso, que agora e tardiamente tem vindo a receber os primeiros reconhecimentos. A sequente saída dos concelhos de Alcobaça e Nazaré, na procura de um aconchego territorial coerente e eventualmente mais dinâmico, foram a machadada final. O Turismo de Leiria – Fátima ficou reduzido aos concelhos de Pombal, Leiria, Marinha Grande, Batalha, Porto de Mós e Ourém, manta demasiado curta quer em dimensão territorial, massa crítica turística e recursos financeiros para o desenvolvimento da sua atividade. A anunciada redução das verbas públicas disponíveis para este esforço, medida compreensível no atual cenário de poupança em que vivemos, apresenta-se como fatal para o futuro desta Entidade. Desta e eventualmente de outras de semelhante dimensão e características. Daí acreditar que a única solução passará pela fusão das Entidades Regionais de Turismo de Leiria – Fátima e do Oeste, garantindo-se assim um território, massa crítica e meios financeiros adequados à importância que o setor tem para a nossa região. Mas para isso é preciso que o Oeste também queira. Que todos queiram. A manutenção da atual situação levará a um cenário de definhamento do Turismo de Leiria – Fátima e por consequência a um desaparecimento do esforço de promoção regional. Admito até que o perdurar desta situação de letargia, poderá provocar, a curto prazo, a saída de mais um concelho. O futuro o dirá.

Francisco Vieira

Director Executivo da INSIGNARE

In Jornal de Leiria, 20 de Janeiro de 2011

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