quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Sede de saber: a voz do adulto certificado


Sou Rui Henriques, tenho 43 anos e sou Canteiro de profissão. O motivo que me levou a frequentar o Centro Novas Oportunidades foi uma motivação pessoal e uma oportunidade que surgiu pelas vozes de outras pessoas amigas. O ter saído da escola de uma maneira tão desumana, pela mão de uma professora, foi também outra razão. Precisava de provar a mim mesmo e só a mim que tinha e tenho condições para ir mais longe na minha vida académica. O ter filhos desde há dezoito anos levou-me a deixar de olhar só para mim, para lhes poder dar toda a atenção necessária e uma boa educação. No início do ano passado, tomei uma decisão com a minha família. Estava na altura de olhar um pouco para mim. Enchi-me de coragem e fiz a inscrição que mudou a minha vida. Tenho de agradecer aos meus irmãos terem participado comigo nesta aventura, pois com eles foi mais fácil voltar à escola. Ao mesmo tempo, penso que por os ter convencido a me acompanhar dei-lhes uma prenda involuntária. Hoje estão de certeza mais “ricos”. Além disso, a família serve para isso mesmo: partilhar. Frequentar o Processo de Reconhecimento, Validação e Certificação de Competências do Ensino Básico, foi para mim um voltar a nascer e voltar a viver. Algumas dúvidas me afloravam o espirito, pois não sabia ao que vinha e não tinha a noção de que os saberes adquiridos ao longo da minha vida seriam necessários e quase suficientes para um bom desempenho, para além de que os hábitos e as rotinas de estudo há muito estavam esquecidos. Reconheço hoje que as expetativas criadas não saíram defraudadas, bem pelo contrário, foram reforçadas. Afinal tenho algumas competências que desconhecia, ou que no mínimo não valorizava devidamente. Não foi fácil, na medida em que falar de nós na primeira pessoa é um exercício que se torna muitas vezes complicado. Sinto-me hoje muito melhor formado. Melhorei o meu vocabulário, a organização de textos escritos e devo dizer que a escrita é um prazer, desinibi-me ao expor-me para argumentar ou contra argumentar e até participei em tertúlias. Um hábito que voltei a ter foi o de Leitura. Confesso que hoje não passo sem ler. Orgulho-me ter conseguido concluído o Ensino Básico. A minha filha mais velha disse-me muitas vezes, principalmente quando me surgia alguma dúvida, que se era eu que andava na escola, era eu que tinha de mostrar aquilo que sabia. Concordo plenamente e acho que todos nós como estudantes devemos mostrar o que sabemos na realidade e não deixar que outros o façam por nós. Os jovens com quem tenho conversado sobre este Processo de RVCC mostram sempre uma enorme contrariedade. “Vocês fazem num ano, onde eu demoro vários.” Tento lhes explicar, e isto também serve para a todos os interessados, sejam ricos ou pobres, jornalistas ou políticos; que depois de deixar de ser estudante na Escola Secundária fui para outra Grande Escola. A Escola da Vida. Os mais velhos sabem bem do que falo. Hoje tenho que conciliar o meu ofício, os meus deveres para com a minha família e estudar ao mesmo tempo. Isto implica um grande sacrifício e gostava que fosse bem entendido por toda a gente. Não se deve julgar os outros só porque não continuaram na escola, independentemente das razões que possam ter tido. Se todos parassem para pensar e conversar, chegaríamos à conclusão que temos é que nos unir. Juntar o útil ao agradável. Juntar a sabedoria dos mais velhos e a perícia mostrada pelos mais novos na utilização das novas tecnologias. Para os tentar acompanhar, no início deste ano fiz uma Formação em “Fundamentos de Cultura, Língua e Comunicação”, de nível 3, que me deu bastante prazer. Aprender sobre o novo Acordo Ortográfico, Interpretação de Textos, Comunicação Interpessoal, Domínio da Escrita, Convenções e Transcrição Fonética, entre outros. Foi uma grande experiência, um desenrolar de vivências e aprendizagens que me suscitou diversas emoções que nos fazem sentir em forma. Isto, porque o bem-estar físico e psíquico, passa também por ativar o nosso cérebro e exercitar a nossa memória. Foi bastante útil porque voltei a inscrever-me no Processo de RVCC, agora Secundário, que ainda está a decorrer. Posso hoje dizer, que vale a pena investir algum tempo disponível na valorização da componente formativa/cultural, pois é sempre uma mais-valia importante no exercício da cidadania e no mundo laboral. Para concluir estes processos, é absolutamente necessário saber utilizar o computador. Para mim não foi novidade, pois tenho um há muito tempo e sei como o utilizar. É claro que faço por estar sempre alerta, em relação a novas atualizações, no que respeita às novas tecnologias. Até no meu local de trabalho começam a aparecer máquinas onde é necessário a utilização dos computadores. A Língua Inglesa, no meu caso, também é necessária para concluir o Nível Secundário. Tenho ao longo da minha vida aprendido de várias maneiras a falar e a escrever esta bonita língua, hoje bastante útil no dia-a-dia, seja com as novas tecnologias, dar indicações a turistas ou no meu ofício para compreender clientes de outros países, entre outras. Tomei consciência da importância que tem a formação aos mais variados níveis. Na valorização pessoal de cada um de nós, no desenvolvimento económico do país, mas também para a nossa afirmação no contexto europeu. Não posso esquecer as pessoas que conheci, como colegas excecionais, formadores como nunca tive, agradecer à Técnica de RVCC, Sílvia Gonçalves, que me sugeriu participar com um pequeno texto para o jornal “Repórter” e a uma Grande Escola como a Insignare, que serve de exemplo ou deveria servir de exemplo para muitas outras. Desde já, o meu muito obrigado por me proporcionarem momentos inesquecíveis e contribuírem para a melhoria do meu futuro enquanto cidadão português, europeu e mundial.
Rui Henriques

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