terça-feira, 13 de dezembro de 2011

A importância da liderança no sucesso das organizações

"A execução da autoridade vai-se esbatendo com o tempo e com a empatia que se cria. Uma pessoa chega e mostra quem é e o que pode fazer, afirma-se e estabelece regras. A liderança toda a gente deve senti-la e ninguém a ver."



Cito José Mourinho, um dos melhores treinadores de futebol do Mundo e certamente uma das figuras portuguesas mais reconhecidas internacionalmente. Para além da sua competência técnica, sustentada num ascendente e discreto percurso de aprendizagem, acredito que o seu sucesso deriva da sua inquestionável capacidade de liderança. Voraz na defesa dos seus jogadores e das organizações onde trabalha, assume isoladamente todos os riscos em plena peleja e sabe discretamente afastar-se nos momentos de vitória e consagração. Dá o peito às balas na mais acesa refrega, distraindo com isso os adversários para o essencial da questão, ultrapassando amiúde, regras básicas de boa educação e cordialidade entre pares. Por vezes, tantas vezes, parece valer tudo. E vale. De forte personalidade, cria regras que religiosamente obriga a cumprir, independentemente da importância dos seus colaboradores e parece dizer sempre, quase sempre, o que pensa. Ou pelo menos aquilo que naquele momento e em função de um determinado objetivo lhe parece conveniente dizer. Consegue rapidamente passar do centro de todas as atenções e de todos os ódios, para momentos de máxima discrição e completa serenidade. E como ele próprio afirma, a liderança é algo para ser sentido e muito pouco para ser visto. Aprecio-o a capacidade de liderança de José Mourinho e longe de aspirar a qualquer tipo de comparação, muito me identifico com ela. Desde jovem e sobre estas coisas de mandar e ser mandado, aprendi que os colaboradores são normalmente o espelho do seu líder. E que as organizações prosperam e consolidam-se na qualidade e intensidade da sinergia que se consegue atingir. Entre uns e os outros. Se a isto adicionarmos a consciência de um projeto comum, a humildade para saber ouvir e uma denodada capacidade de trabalho, temos organização e futuro.

Francisco Vieira
(presidente da direção da Associação Empresarial Ourém – Fátima)

Testemunho de uma adulto que frequentou o RVCC

Olá!

Sou José Mendes Pereira, moro em Montelo, freguesia de Fátima, tenho 52 anos e recentemente frequentei o RVCC de nível básico.

Esta ideia de ir para a escola novamente não é nada fácil.

Por vezes formamos ideias completamente negativas acerca dos novos desafios, mesmo sem os conhecer.

Uma vez tomada a decisão, encarei o assunto com responsabilidade e lá fui eu, cabisbaixo, tímido, tal e qual como se fosse um rapazola.

Encontrei um espaço agradável, um ambiente tranquilo, de paz, alegria, onde descobri que afinal, tenho em mim, ainda bem vivas, as memórias e o jeito de rapaz de escola.

Contudo, os tempos eram outros. Já não fui encontrar os meus colegas da aldeia, mas sim um pequeno grupo, trabalhador e dinâmico, que rapidamente se soube unir, fortalecendo-se para atingir um objectivo comum a todos, chegando mesmo a fazer coisas maravilhosas.

Para eles fica aqui o meu muito obrigado, pela amizade e companheirismo.

É evidente que, apesar de sermos um grupo bom, sozinhos não chegaríamos à meta. Para que tal acontecesse, houve muito trabalho e dedicação por parte das formadoras, que foram incansáveis e muito pacientes.

É de realçar o tempo dispensado para compreender as nossas dificuldades, dedicando-nos todo o seu profissionalismo e conhecimento académico.

Para elas, em meu nome e do restante grupo, vai um grande obrigado, pela amizade e pela forma como sempre nos acolheram.

Deixo um conselho a todos os que lêem este pequeno texto: deixem um pouco o conforto das vossas casas, juntem-se a este grupo e descobrirão que há muitas coisas para aprender, quer a nível pessoal, quer a nível social.

No final, já fica um sentimento de saudade.

Talvez o futuro nos reserve um novo encontro, num novo desafio, numa outra sala, mas com os mesmos objectivos.

Obrigado a todos.

José Mendes Pereira

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Cerimónia de Entrega de Certificados do Centro Novas Oportunidades e do Centro de Formação Contínua da Insignare

Discurso do Diretor Executivo da INSIGNARE, Dr. Francisco Vieira

Breves palavras.

Cumprimento todos os presentes, com especial atenção os convidados que nos honram com a sua participação neste ato que intitularia de solene. Esta Cerimónia de Entrega de Certificados do Centro Novas Oportunidades, que nesta data comemora 10 anos de atividade, e do Centro de Formação Contínua da Insignare
Num momento em que o esforço desenvolvido ao longo desta última década é colocado em causa, quer nos seus objetivos, quer na qualidade do trabalho desenvolvido, penso ser de atenta oportunidade agradecer o empenhamento de todos aqueles que ao longo dos últimos 10 anos colaboraram no CNO da Insignare.
Para todos eles, diretores, coordenadores, formadores, profissionais de RVCC, administrativos, um muito obrigado em nome da Direção da Insignare pela dedicação que colocaram nesta causa. Sentimo-nos honrados pelo vosso desempenho, pela qualidade dos procedimentos desenvolvidos, pelas metas excelentes que sempre conseguiram atingir. Para todos e como prova de reconhecimento, peço uma calorosa salva de palmas.
Mas todo o esforço desenvolvido pelo CNO da Insignare ao longo dos últimos 10 anos, só se justifica pelo impacto positivo e pela valorização pessoal e profissional de todos aqueles que corajosamente decidiram voltar à escola e acreditaram como é importante uma constante e imensa disponibilidade para aprender. Ao longo de toda a vida.
Para todos aqueles que como vós, tiveram a coragem de voltar à Escola, peço também uma calorosa e merecida salva de palmas.
Neste momento de grande indefinição para o projeto dos Centros Novas Oportunidades, cito o grande líder chinês, Mao Tse-Tung:
“A autossatisfação é inimiga do estudo. Se queremos realmente aprender alguma coisa, devemos começar por libertar-nos disso. Em relação a nós próprios devemos ser ‘insaciáveis na aprendizagem’ e em relação aos outros, ‘insaciáveis no ensino.”
Estranhas devem ser estas palavras para aqueles que hoje questionam a oportunidade deste tipo de cerimónia. Para aqueles que certamente por nunca terem participado em nenhuma, não conseguem ainda compreender a importância da imensa satisfação pessoal de todos aqueles, que por razões diversas da vida não o puderam estudar no tempo próprio. Bastaria ver os sorrisos nervosos, a presença orgulhosa de familiares e amigos, o entusiasmo com que recebem os certificados, as histórias que connosco partilham.
Acredito que bastaria isso para ajudar a mudar muitas opiniões. E por acreditar na importância social deste projeto, a Direção da Insignare decidiu apresentar uma nova candidatura de apoio à continuação deste serviço. Considerando a qualidade e quantidade do trabalho desenvolvido ao longo dos últimos 10 anos, não tememos o resultado final. Em face das limitações financeiras que este tempo nos impõe, que fiquem os melhores e garantidamente nós estaremos entre eles.
Muito obrigado a todos.

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Cerimónia de entrega de certificados

Ontem, dia 5 de Dezembro de 2011, decorreu a cerimónia de entrega de certificados do nosso Centro Novas Oportunidades. Em representação de todos os certificados de nível básico, convidámos a adulta Almerinda Nunes a discursar, por ser uma pessoa que se destacou pela forma como encarou o processo e pelo empenho e competências que demonstrou.

Aqui deixamos o seu testemunho e desejamos muitas felicidades a todos.


"Boa noite!

O meu nome é Almerinda Nunes, moro em Caxarias.

Hoje estou aqui, com alguma emoção, mas também orgulhosa de mim mesma,

para dar o meu testemunho acerca do Processo RVCC, que concluí na escola da Barreira, no dia 25 de Novembro.

Quando tive conhecimento que iria decorrer na escola da Barreira o processo RVCC para o 9º ano, decidi inscrever-me porque tinha muita vontade de aprofundar os meus conhecimentos e também aprender algumas coisas novas.

Quando me falavam do RVCC, diziam-me que era fácil, era escrever a nossa história de vida e fazer algumas fichas nas sessões. Mas não foi bem assim, porque na minha história de vida tive que demonstrar competências em várias áreas. Não foi fácil elaborar o meu portfólio e houve momentos que pensei em desistir, mas ao mesmo tempo pensava: “se tantas pessoas já conseguiram porque é que não hei-de conseguir também?”. Ao falar com os meus colegas descobri que não estava a ser fácil para ninguém, mas não podíamos nem devíamos desistir, porque este processo era importante para nós, tanto a nível pessoal como profissional.

Escrever a minha história de vida foi recordar experiências e emoções vividas, algumas delas há muito tempo esquecidas e que contribuíram muito para a pessoa que sou hoje.

Adquiri novos conhecimentos que me enriqueceram enquanto pessoa e cidadã, com maior capacidade de reflectir, decidir e agir.

Para mim foi muito gratificante este processo, saio com a minha auto-estima melhorada e com níveis de auto confiança reforçados.

Na equipa que me acompanhou durante estes meses, encontrei o estímulo e a motivação, que me deram coragem para desenvolver, com gosto, o meu portfólio com a qualidade de que me orgulho, pois exigiu determinação, entrega e esforço.

Sem a sua dedicação e a sua ajuda não teria chegado até aqui.

Assim sendo, do fundo do coração, o meu muito obrigada, pela nova oportunidade que me foi proporcionada.

Formação e conhecimentos… porque não há limite de tempo para aprendermos, se assim o quisermos."

A equipa de nível básico:

Marília Matias, profissional de RVC

Dulce Maurício, formadora de MV e TIC

Rute Ribeiro, formadora de LC e CE


sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Por amor a uma causa

Este texto NÃO é de minha autoria. Partilho-o com a devida autorização da autora, Lurdes Moura, TDE no CNO da EB2,3 D. Afonso, IV Conde de Ourém. Está de tal maneira bem escrito e com uma conclusão tal que subscrevo-o inteiramente.

«Num qualquer dia desta semana, saí da escola por volta das 18 horas e percorri os 35 km habituais para ir buscar a minha filha ao colégio e levá-la ao ballet. O saco do ballet continha, para além das roupinhas, dois pães de leite, um queque e uma garrafinha de água. A minha filhota costuma sair da aula faminta, mas o motivo do lanche tardio era outro: Naquele dia, depois do ballet não iríamos para casa, pois eu voltaria à escola, e sem alternativa, teria de levar a minha filha comigo. Assim que a aula terminou, ajudei-a a trocar de roupa, e por volta das 19 horas e 20 minutos seguimos viagem, percorrendo mais 35 km com o objetivo de realizar uma sessão de diagnóstico a uma única adulta nessa noite. Poderia ter desmarcado a sessão, mas não o fiz. Para essa decisão, contribuiu a dificuldade de contacto anterior com a adulta, impedimentos de ordem pessoal, que a impossibilitaram de comparecer no Centro até essa data, não esquecendo a imperatividade do cumprimento de prazos estipulados pela legislação referente aos adultos desempregados!

Minutos antes das 20 horas chegámos à escola. À entrada, um colega que saía, obervou: “Que frio! Isto não é noite para uma mãe sair de casa com a filha!" Após uma breve troca de palavra, seguimos, ele em direção a sua casa e nós, em direção ao Centro Novas Oportunidades.

Alguns minutos depois chegou a adulta para a realização da sessão de diagnóstico. A Isabel (nome fictício) tem 43 anos e 4 filhos, com idades compreendidas entre os 6 e os 17 anos. Oriunda de um bairro pobre de uma cidade grande, frequentou a escola até concluir o 4.º ano de escolaridade. Tratando-se da filha mais velha, tornou-se “mãe” dos seus irmãos mais novos, tendo sido incumbida da generalidade das tarefas domésticas e responsabilidades parentais. Durante os anos que lhe restaram da sua infância, a Isabel esqueceu muito do pouco que aprendeu na sua curta passagem pela escola. Raramente leu ou escreveu, pois isso não lhe foi exigido, nem permitido, em primeiro lugar pela família e posteriormente pelas suas atividades profissionais.

Quando a Isabel iniciou o preenchimento do cabeçalho da Ficha de Diagnóstico, a agradável caligrafia do cabeçalho, não fazia prever as dificuldades que se seguiam. Constatei que a adulta não consegue ler nem escrever de forma minimamente correta, uma frase simples. Manifestou, em relação a isso, profunda tristeza e muita vontade de, pelo menos, aprender a ler.

A iniciar mais 35 km de regresso a casa, a minha filha, na ingenuidade dos seus seis anos, perguntava-me: “Mamã, quando aquela senhora era pequenina não havia escolas?”. Eu respondi-lhe que sim, mas que aquela senhora não teve a oportunidade de estudar, e fui-lhe explicando os motivos de forma a que ela entendesse. “Tenho muita pena dela, mamã.” Expliquei-lhe que aquela senhora terá a possibilidade de aprender a ler e a escrever na minha escola ou em outra escola, porque a escola também serve para ensinar os adultos”. Após um minuto de silêncio acrescentou: “Mamã, os adultos vêm à escola à noite, porque de dia têm que trabalhar, não é? Ainda bem, senão não podiam aprender”.

Encaminharei esta adulta, à semelhança de outros na mesma situação, para o Programa de Formação em Competências Básicas, com a duração de 300 horas, para que lhe seja possível adquirir competências mínimas de Linguagem e Comunicação, Matemática para a Vida e TIC, que posteriormente permitam a integração num percurso EFA B2, para concluir o 6.º ano e quem sabe, posteriormente o 9º, preferencialmente pela via da dupla certificação.

Ela aproveitará essa oportunidade, se ela existir. Nos seus olhos ficou o brilho da esperança de aprender a ler e a escrever e talvez, posteriormente, concluir o 6.º ano.

Pergunto: alguém terá a coragem de dizer que esta adulta, de 43 anos, não merece essa oportunidade? Que não vale a pena o investimento? Milhares de portugueses(as) com dezenas de anos de vida ativa pela frente e excluídos do mercado de trabalho precisam desta oportunidade! Pela justiça social, pelo desenvolvimento do país, na parte que me compete não deixarei de acreditar, não deixarei de lutar contra o preconceito!»

Sérgio Fernandes