quarta-feira, 29 de junho de 2011

Exercício de Cidadania

O Dicionário da Língua Portuguesa define Cidadão como «indivíduo pertencente a um estado livre, no gozo dos seus direitos civis e políticos, e sujeito a todas as obrigações inerentes a essa condição». O sociólogo Herbert de Sousa define «como sendo o indivíduo que tem consciência de seus direitos e deveres e participa ativamente de todas as questões da sociedade.»
Vem esta introdução a respeito dos comentários nas Redes Sociais sobre o falecimento de Angélico Vieira, ator e cantor.
Um número importante dos comentários lamentava a sua morte; um número pequeno realçava que tinha havido outra morte - Hélio Filpe, seu amigo - e ferimentos graves noutra jovem, ainda internada, muito menos falados, e inquiria o porquê deste fato; outros queixavam-se que a importância que estava a ser dada era demasiada, pois todos os dias pessoas perdem a vida nas estradas e nnguém opina com tanto fervor; outros ainda faziam comentários depreciativos sobre o ator e/ou a sua música - nesta senda, vários humoristas chamaram a atenção para a distinção entre humor, mesmo negro, e falta de respeito.
Aquilo que leva a escrever este texto tem a ver com a rapidez com que as ditas piadas mas também os comentários fora do padrão maioritário (quer no sentido comovido quer no sentido humorístico, dependendo do principal autor da mensagem e respetivo local) descambaram em insultos pessoais, palavrões e afins, por os seus autores se admirarem como alguém podia expressar tais opiniões, absolutamente discordantes da média e do local.
O antropólogo Roger Keesing define Cultura de acordo com três abordagens: a segunda considera cultura como sistemas estruturais - define cultura como "um sistema simbólico que é a criação acumulativa da mente humana. O seu trabalho tem sido o de descobrir na estruturação dos domínios culturais – mito, arte, parentesco e linguagem – os princípios da mente que geram essas elaborações culturais. Refere que a cultura é uma lente através da qual o Homem vê o mundo - pessoas de culturas diferentes usam lentes diferentes e, portanto, têm visões distintas das coisas.
O fato de que o Homem vê o mundo através de sua cultura tem como consequência a propensão em considerar o seu modo de vida como o mais correto e o mais natural (isso é denominado etnocentrismo), depreciando o comportamento daqueles que agem fora dos padrões de sua comunidade.
Voltando ao início, era muito importante para que as pessoas soubessem viver em plena Cidadania o respeito pelas opiniões dos outros, mesmo e sobretudo quando discordantes. O discordar é possível, permitido e pessoalmente incentivo-o, mas enquadrado no respeito pelo outro, sem ser necessário "personalizar", humilhar a pessoa a quem se destina a discordância.
Considerando que este respeito se desenvolve a partir do Pré-Escolar e no Primeiro Ciclo, tenho dúvidas que esteja a resultar esta aprendizagem. Ou será que o anonimato que as Redes Sociais permitem, na prática um exercício individualista no mundo virtual, faz trazer ao de cima o selvagem que há em alguns?
Sérgio Fernandes